Wednesday, April 29, 2009

“Da morte também não tenho medo”

O coveiro de Mioma, uma aldeia do distrito de Viseu, explicou-nos o que o levou, nos dias de hoje, a escolher esta profissão. Exerce-a há já oito anos e já não quer ter outra carreira. Afirma não ter medo, mas já se assustou em determinadas situações.

Armando Figueira Cerdeira, de 66 anos, trabalhou durante 28 anos na Guarda Nacional Republicana, em Lisboa, e ainda em Coimbra, sempre ligado à Cavalaria. Após se reformar e se ter dedicado à agricultura durante algum tempo, surgiu-lhe um enorme desafio: ser o coveiro da sua freguesia.
O convite apareceu quando o coveiro de então faleceu e mais ninguém queria fazer o trabalho.
Armando ganhou coragem e, apesar de inicialmente não ser o trabalho que mais lhe agradasse, aventurou-se.
Ao início, a família não ficou muito satisfeita com aquela decisão, mas agora já se mentalizou: “era um trabalho que alguém tinha que fazer”.
Para Armando, as qualidades necessárias para se ser um bom coveiro é saber trabalhar com a enxada e coragem para lidar com este estilo de vida, até porque já passou por muitas situações e algumas “não se devem nem podem contar”, mas confessou que teve de ter um grande estômago.
Em tom de brincadeira, os amigos já o “acusaram” de roubar sapatos e casacos a mortos, mas rejeita essas calúnias: “se ainda fosse uma carteira cheia de dinheiro”, ironiza dizendo que ainda pensava duas vezes...
Confessa que já se assustou em algumas situações, mas afirma que: “da morte também não tenho medo!”
No entanto, admite que para se ser coveiro não é necessária nenhuma vocação, mas sim “uma pessoa saber o peso do trabalho, e o indivíduo tem que ter consciência daquilo que anda a fazer”, uma vez que é um trabalho doloroso e é necessário ir a contar com qualquer coisa que apareça.
No fim de contas, para Armando Cerveira, ser Coveiro “é deitar terra para cima”! E isso é o que lhe custa menos: “a mim não pesa nada...não pesa nada”. Hoje não queria ter mais nenhuma profissão: “é aquela que tenho e não quero outra”, afirma o Coveiro de Mioma...
Armando já fez funerais de graça, mas não o faz para todos. Fez um porque tinha consideração pela família, o que não quer dizer que um dia não o volte a fazer se houver alguém que esteja necessitado e que não tenha dinheiro: “é fazer uma obra de caridade”!